A Verdade e Autenticidade Humana

O ser humano é um descobridor e explorador da verdade, a sede por conhecimento é uma marca característica que esteve presente ao longo de toda a humanidade e que permitiu que evoluíssemos como sociedade e indivíduos. Toda ciência porta um dinamismo centrado na busca da verdade, desta forma, sua busca não está apenas relacionada à realidades materiais mas também à realidade da existência humana, tendo em vista áreas do conhecimento como sociologia, psicologia e filosofia.

A verdade é inerente ao ser humano, porém, seu descobrimento o afeta diretamente. Ela é geradora de coerência que por sua vez, permite que sentimentos de harmonia e paz sejam estabelecidos. Quando um indivíduo se depara com a verdade, não lhe é garantida a paz de imediato, apenas por conhecê-la, é necessário, a partir de um ato livre, aceitá-la. Pode-se imaginar dois cenários diferentes em que ambas pessoas tiveram esse encontro com a verdade, porém, reagiram de forma diferente. No primeiro cenário, a pessoa em seu ato livre, escolhe por ignorar a verdade que lhe foi apresentada e seguir o seu caminho na mentira e continuará sentindo certa angústia pois lhe faltará a coerência.

Já em um segundo cenário, em que a pessoa também se depara com a verdade, escolhe, também por um ato livre, agir conforme o que lhe foi revelado. Este movimento de abraçar a verdade pode ser doloroso pois depende de uma mudança de comportamento e ruptura com velhos hábitos, ou seja, é um movimento que nos tira da zona de conforto, além de nos depararmos com nossas fraquezas ao perceber que somos suscetíveis ao erro. Porém, o sentimento que vem atrelado à luta pela mudança, não é o de angústia, e sim o de paz pois há a busca da harmonia.

Para exemplificar os cenários acima dentro do contexto da psicologia, pensemos em uma situação de luto não elaborado, ou seja, quando a pessoa apresenta dificuldades de entrar em contato com sua perda. O sujeito que passa por uma situação de perda pode não elaborar o luto por uma negação da ideia de que ela possa ter perdido uma pessoa amada, e tal movimento de negação virá atrelado a sentimentos negativos como tristeza, raiva, angústia. Porém, a pessoa que decide por trabalhar essa “não aceitação”, por mais difícil que seja perceber e aceitar que a pessoa falecida não está mais ao seu lado, passar pelo processo de elaboração da perda permitirá que ela aprenda a lidar com esse fato, trazendo uma reorganização emocional.

Segundo Santo Tomás de Aquino, a verdade é a adequação do intelecto à coisa. Tal afirmação pode ser interpretada no âmbito da psicologia clínica, sendo a verdade como a busca da adequação do intelecto à realidade do sujeito como ser humano e indivíduo. Ou seja, o entendimento do que seria o fim natural do homem enquanto espécie e em sua individualidade, e posteriormente, a adequação do seu comportamento a esse entendimento. Pois, para além do intelecto, Santo Tomás tratara a vontade como fator essencial para que o homem desempenhe domínio sobre suas ações.

A adequação do sujeito à verdade, faz com que ele se torne um ser humano autêntico, pois tem a realidade como norte, e dessa forma corrobora Santo Agostinho quando diz que “verdadeiro é aquilo que é”. Para que possamos ser seres humanos autênticos, devemos ser fieis a quem somos, ou seja, devemos adquirir autoconhecimento e aceitar as circunstâncias nas quais estamos inseridos, pois quando há essa aceitação nosso mundo interior entra em harmonia com o exterior. O autoconhecimento não se restringe a apenas a consciência de quem a pessoa é, mas também em relação às potencialidades do indivíduo.

Segundo Ricardo Yepes Stork e Javier Aranguren Echevarría 1 , a ação humana é formada a partir de critérios prévios, baseando-se em valores, que por sua vez, se baseia no que conhecemos como verdade. Ou seja, seres humanos autênticos são pessoas em conformidade com a realidade que os cerca, e o psicólogo irá exercer um papel fundamental na mediação desse processo. Temos o trabalho de identificar o que está destoante entre o pensamento do indivíduo e a realidade, facilitar sua percepção e auxiliá-lo no processo de mudança. Essa mudança será responsável por um grande crescimento, pois como dizem Yepes e Echevarría, a verdade é responsável por inflamar as asas das capacidades humanas.

É seguro afirmar que cada indivíduo é único e insubstituível, ou seja, cada um ocupa um diferente espaço no mundo e exerce uma diferente função. Dessa forma, o trabalho do psicólogo consiste em entender sua individualidade, seu sistema de crenças e valores para entender como tal sujeito atua no mundo e trabalhar dentro desse cenário a partir de conhecimentos teóricos e práticos com o objetivo de proporcionar maiores níveis de saúde mental.

1 STORK, Ricardo Yepes & ECHEVARRÍA, Javier Aranguren. Fundamentos de antropologia.
Um ideal de excelência humana. São Paulo: Instituto Brasileiro de Filosofia e Ciência Ramon Llull, 2005.

Deixe um comentário